quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Projecto Soares dos Reis

A escola Artística de Soares dos Reis celebrou no passado dia 12 de Janeiro de 2012 os seus 127 anos de existência, tendo sido criada oficialmente em 1884 como Escola de Desenho Industrial de Faria de Guimarães do Bonfim. Desde a sua origem que a escola acompanha e reflecte as transformações sociais que caracterizam a sociedade portuguesa, tanto no campo cultural como no campo político. Nos seus primeiros quarenta anos de existência, disponibilizou cursos de um forte pendor tecnológico e dirigidos à formação das classes trabalhadoras. A partir de 1948, a instituição passa a denominar-se Escola de Artes Decorativas de Soares dos Reis e começa a ministrar cursos especializados de cariz artístico, desenvolvendo também a vertente das Artes Gráficas. Com a reforma do ensino secundário de 1972/73, introduzem-se os Cursos Gerais e Complementares de Artes Visuais que, com o 25 de Abril de 1974, são suprimidos passando a escola a ser apenas uma escola secundária, a semelhança de todas as outras. Em 1986, a Lei de Bases do Sistema Educativo permite iniciar o processo que conduzirá à aprovação do estatuto de Escola Especializada de Ensino Artístico.

Em 2008 a Soares dos Reis muda-se para as actuais instalações na rua Major David Magno, abandonando o local original na rua da Firmeza no centro do Porto, ocupando agora um edifício concebido de raíz para as necessidades presentes e futuras ao nível da tecnologia, dos laboratórios e oficinas, condições essenciais para poder enfrentar os novos desafios que se apresentam ao nível do ensino artístico.

No que refere à oferta da escola em termos lectivos, esta faculta uma formação especializada no domínio Visual e Audiovisual através de currículos próprios concebidos especificamente para o ensino artístico especializado e adaptado à realidade e condicionantes de cada área. A Escola Artística Soares dos Reis oferece quatro Cursos Artísticos, nomeadamente Design de Comunicação, Design de Produto, Produção Artística e Comunicação Audiovisual, cada um deles com disciplinas específicas e de opção, que o aluno pode escolher como complemento à sua formação principal. Como oferta complementar às quatro áreas de formação, abriu no ano lectivo de 2008/2009 o Curso Profissional de Moda, e no ano de 2010/2011 o Curso Profissional de Técnico de Animação.

Dotada de um conjunto de professores especializados para cada uma das áreas vocacionais, a escola Soares dos Reis dá preferência a metodologias e formas de abordagem dos conteúdos com o objectivo fundamental da aquisição de conceitos e linguagens específicas, o domínio dos materiais, dos processos técnicos e de utilização de equipamentos, que permitam a leitura e compreensão dos vários fenómenos artísticos e um progressivo desenvolvimento dos processos de saber fazer e do saber criar. Em complemento ao corpo docente especializado e geral, a escola também possui um corpo de técnicos altamente especializados nas várias tecnologias complementares à oferta lectiva de cada um dos cursos, sendo estes responsáveis pela manutenção das máquinas, laboratórios ou oficinas da sua área, bem como pelo apoio ao desenvolvimento dos projectos por parte dos alunos.

Apesar da recente dotação de novos equipamentos e infraestruturas, a escola Soares dos Reis mantém em funcionamento vários recursos que têm vindo progressivamente a entrar em desuso, principalmente aquando da introdução das tecnologias digitais nas artes gráficas e no audiovisual. Para além desta preocupação em manter activos alguns métodos de produção e edição tradicionais com fins pedagógicos, a escola também tem recebido doações de equipamento desactivado da parte de instituições que entraram em processo de renovação dos seus recursos.
Certas áreas técnicas mantêm o seu funcionamento graças ao empenho e dedicação de toda a comunidade escolar, e principalmente da direcção, que tem consciência da importância em manter presentes os saberes e princípios básicos dos cursos ministrados pela escola. De realçar os laboratórios de revelação e ampliação fotográfica tradicional, as oficinas de fotocomposição e as de impressão tipográfica como exemplo deste princípio de manutenção de métodos de produção já pouco usuais.
Neste contexto de oferta, conservação e disponibilização destes recursos materiais, acaba por surgir também uma grande mais valia que a escola possui ao nível dos recursos humanos, com uma equipe de profissionais que trabalham junto destes equipamentos, mantendo em funcionamento e partilhando o seus saberes adquiridos principalmente pela sua vasta experiência na utilização destas tecnologias. A constante exigência da parte dos alunos, que ano após ano procuram explorar os limites de cada tecnologia na elaboração dos seus projectos, vão elevando as capacidades e saberes destes profissionais na sua área de trabalho.
Surge aqui então um contexto singular em que antigos saberes e sistemas de produção tradicionais se conjugam com as novas gerações e modos de operar mais recentes num universo académico em que o desafio e a exploração andam de mãos dadas, com os alunos a sentirem grande entusiasmo pela oportunidade de tomarem contacto com métodos e tecnologias já pouco acessíveis.

Na maioria das disciplinas de vertente tecnológica e prática, foram identificadas poucas oportunidades de desenvolver um projecto focado nos desperdícios ou sobras que possam ocorrer nas oficinas. Num contexto lectivo com um forte cariz experimental e exploratório tudo é potencialmente aproveitável. E o panorama actual de contenção orçamental generalizada, particularmente em organismos públicos, implica um bom juízo na gestão dos recursos limitados que a escola dispõe. Nos cursos de Produção Artística e Design de Produto são reutilizados os mais pequenos restos de tecidos, metais, madeiras ou outros materiais para experiências ou na realização de novos trabalhos. Em Comunicação Audiovisual os principais suportes de trabalho são digitais, à excepção dos laboratórios fotográficos que ainda assim não produzem qualquer desperdício significativo, o mesmo ocorrendo no curso Design de Comunicação.

No entanto, o departamento das Artes Gráficas revelou possibilidades interessantes de algum projecto na área da nossa disciplina de Seminários (do Design?). Apesar dos desperdícios serem poucos e de reduzida dimensão, apresentam muitas vezes expressões gráficas curiosas e apelativas em suporte de papel de pesos composições variadas. Os materiais que compoem o desperdício de Artes Gráficas permitem explorar uma área de trabalho enraízada em fortes tradições na cidade do Porto, que são os universos da Animação e dos Brinquedos Ópticos. (*** Pode se falar de Cinanima, Manoel D'Oliveira, Filmógrafo, CasadaAnimação, etc ***)
Entre outras opções, a Animação e os Brinquedos Ópticos conjugam áreas de trabalho que na escola Soares dos Reis estão representadas em vários dos seus cursos, (Audiovisual,Anima,Produto?) mas ao mesmo tempo podem representar de uma forma original alguns dos valores da própria escola. Os Brinquedos Ópticos mais simples são no fundo pequenos dispositivos técnicos que permitem diferentes modos de expressão visual lúdica e apelativa, conceitos que facilmente relacionamos com a Soares dos Reis.
A escola artística de Soares dos Reis é reconhecida como uma estabelecimento de ensino (desenvolver texto sobre a especificidade da escola e da sua representatividade no campo das artes da região em que se insere ... )

Possibilidades:
A) Um projecto de artigos significativos de merchandising para a escola

B) Um projecto de estudo aplicado, cujo principal objectivo é realizar toda a cadeia de comercialização até ao fim, calculando a partir de uma pequeníssima amostra qual a margem de lucro obtido e a "Taxa de esforço" que a instituição teve que empregar.

Referência para aluguer de espaços na escola Soares dos Reis ao abrigo da iniciativa "Abrir a escola à comunidade - Cedência de instalações" da Parque Escolar.

A Gruta dos Sonhos e o Cinema 3D

Estreou recentemente entre nós nas salas comerciais o filme "A Gruta dos Sonhos Perdidos".
Para além da temática fascinante, o filme foi para mim um sinal de esperança na tecnologia 3D. Se tantas vezes o cinema de ficção tem-me defraudado na exploração das possibilidades dramáticas da tecnologia, o cinema documental revela poder ser um campo onde o 3D nos pode levar realmente a novas dimensões.


Reconheço que as recentes tecnologias de exibição tridimensional têm vindo a desiludir-me.
Após um período inicial de forte entusiasmo onde, por razões profissionais e académicas, acompanhei os primeiros desenvolvimentos da área, aguardei com grande expectativa a chegada deste universo aos grandes filmes da indústria do cinema. O que parecia o início de um caminho curioso e cheio de potencialidades, no geral veio a resumir-se a uma mera demonstração de efeitos especiais exóticos e inúteis que tantas vezes apenas perturbam o desfrutar natural e relaxado do filme.

Vi bastantes filmes em 3D que não achei particularmente interessantes. Mas frequentemente adorei revê-los em imagem tradicional, onde facilmente me envolvia nas suas tramas e ambientes. A realidade é que o 3D não fazia falta nenhuma à história, muito pelo contrário. Na minha opinião, a única obra que até ao momento explorou profundamente as possibilidades dramáticas abertas pela tecnologia foi o filme Avatar, de James Cameron. Não que o 3D seja indispensável para a história, que até é relativamente banal. Mas, conjugado com a passagem das personagens para o universo alternativo do planeta Pandora, uma leve profundidade era criada à nossa volta que enriquecia a nossa imersão no ambiente do planeta.

Tudo isto a propósito do filme "A Gruta dos Sonhos Perdidos", de Werner Horzog.
O filme descreve uma expedição exclusiva de vários cientistas à gruta de Chauvet-Pont-d'Arc, descoberta em 1994, onde foram identificadas centenas pinturas primitivas em excelente estado de conservação, algumas com mais de 30.000 anos - as mais antigas algumas vez encontradas. Acompanhando cientistas de diferentes áreas, o filme permite acedermos a um local inacessível para o comum dos cidadãos, pois a gruta não permite quaisquer visitas e mesmo o acesso da comunidade científica é muito condicionado. A vantagem do 3D nesta obra face a um filme tradicional, ainda para mais visto numa sala de cinema, é que permite um envolvimento é muito maior criando a ilusão de nós próprios estamos a entrar nas grutas. O jogo de luz e sombras da exploração espeleológica parece combinar-se harmoniosamente com a projecção cinematográfica, como se a sala fosse também ela uma recanto da própria gruta. O equipamento utilizado pelos cientistas e as suas dificuldades em transpor as passagens mais difíceis fazem-nos sentir priveligiados por estarmos sentados e munidos de uns simples óculos, acompanhando a exploração sem as dificuldades de estarmos fisicamente na gruta.

E depois há a descoberta das pinturas que a tridimensionalidade do filme amplia e realça. Habituados que estamos a observar estas pinturas em páginas bidimensionais de livros ou revistas, descobrimos uma volumetria de figuras belíssimas, com faces ocultas em que a imagem nunca é totalmente visualizada, num jogo dinâmico de fundos e formas em descobertas constantes que só o cinema permite. Foi para mim uma verdadeira revelação vislumbrar aquelas imagens no seu real contexto, que enhuma representação fotográfica poderá fazer justiça.

As experiências de cinema 3D, quando aliadas a narrativas documentais, são verdadeiramente enriquecedoras. Lembro-me de outros exemplos, como as filmagens dos astronautas da Nasa na Estação Espacial Internacional ou o documentário sobre as gigantescas ondas de Teahupo'o no Tahiti. O facto de estarmos perante imagens captadas em contexto real, realizadas com o propósito de descreverem locais ou acções concretos e que nunca teríamos acesso em condições normais, justifica o recurso ao 3D como forma de melhor transmitir a informação - e nos melhores exemplos, a sensação de lá estar. No fundo, vêem acrescentar novos níveis de informação ao documentário.

Mas poderão facilmente ir além disso, recriando os universos mais suis generis nas nossas salas de cinema. E sem precisarem de atirar miríades de objectos na nossa direcção só porque é possível. No cinema documental, se algo salta na nossa direcção é a sério. E isso faz toda a diferença.

Nuno Lacerda