O filósofo espanhol Emilio Lledó, que é tão catedrático como Santos Juliá, teme-o afirma sem hesitações que «una universidad pragmatica es la muerte del saber, de la cultura, y es el peor servicio que se le pude hacer a nuestra sociedad» (El País, 11/7/1998) (…)
A prestação de serviços à comunidade exorta as universidades a colaborarem com as autarquias e as empresas das zonas onde estão sediadas. É um propósito edificante, sem dúvida, mas tem limites. Os laboratórios universitários existem para fazer investigação fundamental, não para solucionar problemas fabris de organização ou racionalização da produção. Os industriais não podem pretender orientar ou condicionar a investigação universitária, mesmo que utilizem poderosos argumentos e natureza economicista. As faculdades, por seu turno, têm de resistir às promessas de lucro imediato, porque essa lógica é empresarial e não científica (…).
A garantia de saídas profissionais para os cursos superiores, que nunca foi uma incumbência da instituição universitária desde os tempos medievos até à actualidade (as faculdades não são agências de emprego), tornou-se nos dias de hoje uma espécie de obrigação moral para as universidades de todo o mundo. Julgo que nenhuma faculdade do nosso país se alheou da questão e, dentro das suas possibilidades (que são escassas, porque a universidade portuguesa nunca teve poder de decisão a nível económico e nos últimos quinze anos perdeu boa parte de influência que historicamente sempre exerceu junto dos políticos), todas tentam garantir um futuro profissional digno para os seus licenciados. Mas, convenhamos, a tarefa não é fácil, pois a frágil economia portuguesa não garante a existência de um grande número de postos de trabalho destinado aos especialistas universitários, bastando duas ou três licenciaturas para esgotar as carências momentâneas existentes num determinado sector. Reaparecem, então, as notícias nos jornais sobre os «doutores no desemprego».
Nessa altura tomam-se decisões precipitadas e patéticas. Na ânsia de encontrarem colocação no mercado de trabalho para os seus diplomados, as faculdades criam novos cursos com designações apropriadas para as circunstâncias imediatas, adoptando critérios que têm muito a ver com o marketing e pouco com a ciência, a técnica ou a cultura.”
Manuel F. Canaveira, Referência bibliográfica: Canaveira, M.F. (1998). As ficções neo-liberais. Ler, n.º43, 44-47 e 126-127.
sábado, 30 de janeiro de 2010
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