sábado, 2 de maio de 2020

Cinema anos zero

Balanço de Luís Miguel Oliveira


O cinema chegou a 2009, com "Avatar", a anunciar uma "nova era", final perfeito para uma década obcecada com a mudança. E nós, espectadores: o que é que vimos nos "anos zero", o que foi isto? Outra boa pergunta: o que é um espectador de cinema? Que venha a década nova. 

1. Uma década é uma unidade de tempo tão arbitrária como outra qualquer, um utensílio fornecido pelo calendário para tentar impor uma "ordem" ou, como nas narrativas, um "princípio, meio e fim" àquilo que, na imparável dinâmica das coisas, não possui nada disso. Fazer "balanços", impor um princípio de ordenação, encontrar uma "narrativa" que se distinga de outras, é um impulso humano antes de ser um impulso cultural (ou é um impulso cultural porque é um impulso humano). Não é mau, não é bom, é o que é. Um tipo de arbitrariedade para tentar domesticar a arbitrariedade "cósmica". Se não esquecermos isto, pode-se esperar do exercício que seja minimamente proveitável. Arbitrário por arbitrário, faz tanto sentido falar do decénio 1997-2007 como de 2001-2010 (como, tecnicamente falando, devia ser). Mas por que não, e viva a força dos números redondos, os "poderes do 10" e o "mistério do zero", falar de 2000-2009? Os segundos "anos 00" da história do cinema: o simbolismo é inescapável, para mais numa década em que nos foi sendo garantido que tudo - da política, ao jornalismo, ao cinema - estava a mudar ou já tinha mudado.

No princípio da década o 11 de Setembro "mudou" o mundo, e no final da década foi a prometer "mudança" que um novo presidente foi eleito nos EUA. O cinema chegou a 2009, com "Avatar", a anunciar uma "nova era", um "cinema do futuro", final perfeito para uma década obcecada com a mudança. E nós, espectadores (outra boa pergunta posta pela década: o que é um "espectador de cinema"?), o que é que vimos nos "anos zero", o que foi isto?

Vale a pena ensaiar uns passos por esse sinuoso caminho, na certeza de que ficaremos longe de o esgotar e, outra advertência prévia, que para uma visão mais clara e seguramente mais completa dos "anos zero" do século XXI o melhor é dar um salto a 2030. O tempo é severo mas é dele que vem a luz e, como sabem todos os que gostam de cinema, é o futuro que anuncia o passado e não o contrário.


2. Houve uma coisa que sempre, ou desde cedo, tinha sido sólida e ruiu durante os "anos zero". A boa pergunta do parágrafo anterior: o que é um espectador de cinema? Em 2010, passar os olhos pelos "anos zero", e particularmente pela indústria americana durante este período, não pode ignorar isto, tanto mais que alguns dos passos decisivos dessa indústria ("Avatar", mais espectacularmente) foram uma resposta. Mesmo durante a grande crise provocada pela expansão da TV, nos anos 50 e 60, as coisas continuaram relativamente claras: sabia-se o que era um espectador de cinema e o que era um espectador de televisão. Qualquer deles pagava, de uma maneira ou de outra, para ver filmes, para ver televisão, para ver filmes na televisão - desde a primeira sessão dos Lumière que o "espectador de cinema" era aquele que pagava para ver um filme. Os "anos zero" trouxeram um novo tipo de espectador, o que vê filmes mas não paga. Faz "downloads", duplica, copia, vê os filmes mas não paga - é um espectador de cinema que deixou de contar, economicamente, como "espectador de cinema". Só existe como buraco (de milhões) nas contas de Hollywood. O filme de James Cameron, renovando a "experiência da sala" (para preservar, chamemos-lhe, a "experiência da caixa") através das 3D, é a solução milagrosa para re-chamar os tresmalhados e garantir a manutenção da indústria como a conhecemos ou é um estertor a prenunciar uma transformação ainda inimaginável? Pese o optimismo das máquinas de "marketing" (cuja função é promover o optimismo) e as certezas dos cretinos das caixas de comentários (cuja função é promover o "marketing"), "Avatar", no que toca ao "cinema do futuro", deixa mais perguntas do que respostas.


3. O espectador de cinema dissolveu-se como entidade económica estável porque a tecnologia chegou a um ponto culminante das possibilidades da sua própria vulgarização. Qualquer pessoa com um computador e umas noções rudimentares de circulação pela Internet tem os filmes que quer (e de resto nem precisa da Internet). A tecnologia digital, "maravilha" durante as últimas décadas, revelou nos anos 2000 a sua faceta "monstruosa". A "luz e a magia" deixaram de ser "industriais", como na empresa criada por George Lucas, e passaram a ser "domésticas". Não é a mesma coisa? Talvez não, mas não é seguro que não se trate apenas de um capítulo da mesma história. Só que antes discutia-se o digital na origem, na raiz, na essência da imagem que era captada ou era interposta na imagem captada: o vídeo e a película, o "efeito especial". Os "anos zero" impuseram a discussão do digital no momento da chegada e da recepção, em termos (e numa escala) em que nunca tinha sido posta. Do digital como modo de fabrico ao digital como modo de consumo. Do digital como facto tecnológico ao digital como facto cultural. É um círculo demasiado perfeito para que se possa dizer que não se trata da mesma história. Fenómenos como o YouTube encarregaram-se de garantir o fecho do círculo. Que tem o YouTube a ver com o cinema? Quase nada, ou quase tudo, com menos contradição do que parece. Há muitos anos que o cinema não estava "só" (para usar a expressão de Godard nas "Histoire(s) du Cinéma"), mas nunca esteve tão acompanhado como nos anos 2000, tão arrastado para dentro duma "cultura da imagem", enorme "bulldozer" de indiferença, com que ele só marginalmente alguma vez teve a ver. Como, numa estranha premonição de todo este excesso de imagens dos "anos zero" (e num estranho luto?), a "Branca de Neve" de João César Monteiro (ah, o escândalo), pareceu querer assinalar, logo em 2000.


4. Curiosamente (ou previsivelmente) o cinema dos "anos zero" trabalhou a integração do digital, em todos os seus estados, na sua própria tradição. Enrijecido por cem anos de periódicas ameaças de "morte", o cinema quis mostrar que a morte da película (apesar de tudo, também ela mais resistente do que se previa nos anos 90) pode ser uma "libertação", assim como uma cobra se livra da pele velha e a troca por uma nova. Vimos grandes mestres, mestres vindos de outro tempo, como Ingmar Bergman e a sua "Sarabanda", atirarem-nos uma última espreitadela, dominando o vídeo digital como se a questão dos suportes não passasse de um detalhe, e em última análise provando que não passa de um detalhe. Logo a abrir, em 2000, Pedro Costa estreou "No Quarto da Vanda", um dos mais influentes filmes da década (despertou vocações, gerou inspirações e imitações), apontando um caminho, estético e metodológico (que o próprio Costa ainda não parou de explorar, vide "Ne Change Rien"), para o casamento entre o cinema (como tradição) e o digital (como suporte tecnológico). O mesmo Costa que, de resto, nos deu (em vídeo digital) um dos últimos três grandes filmes sobre a película cinematográfica, "Onde Jaz o Teu Sorriso", com os Straub. (Os outros grandes filmes sobre a película foram de John Carpenter, "Cigarette Burns", ainda mais paradoxal visto que, episódio de uma série de TV, dele não foram tiradas quaisquer cópias em película; e claro, o "À Prova de Morte" de Tarantino, furioso e reaccionário manifesto em favor do arcaísmo e do analógico).


5. A questão película/digital também é um problema económico, pelo que só surpreende a quem tenha passado estes anos com os olhos postos em Hollywood e na "conversão da indústria" que essa conversão tenha arrancado, de facto, das margens, estéticas e geográficas, onde o dinheiro é escasso e os orçamentos se fazem a uma escala diferente. No Irão, Abbas Kiarostami não estreou, durante os anos 2000, nada feito em película, antes se obstinando, em filmes como "Ten" e, sobretudo, "Five Dedicated to Ozu" (o título, neste contexto, já é "todo um programa"), em explorar o vídeo digital como meio de ultrapassar a "vocação narrativa" do cinema (e conduzi-la, de facto, para um terreno próximo da "vídeo arte").
Na Rússia, Aleksandr Sokurov serviu-se das possibilidades de "armazenamento" das câmaras de vídeo digital para concretizar, livre do constrangimento causado pelos 12 minutos das bobinas de 35mm, o sonho de Hitchcock em "A Corda": um plano-sequência de hora e meia pelos corredores do Hermitage, sem os truques que Hitchcock teve que empregar. Foi "A Arca Russa", "tour de force" entre os mais ousados e "vanguardistas" da década, por acaso ou não (na sua relação com a história russa) mais um exemplo em que o "moderno" foi posto ao serviço de uma reflexão sobre a "tradição". O filme de Sokurov também põe em evidência a questão da invenção de um "peso" para estas novas câmaras digitais: a sua resposta em "Arca Russa" (mobilidade, flutuação, suspensão da gravidade) aproxima-o de Michael Mann (quem, na América "mainstream", mais aprofundou o trabalho sobre o vídeo digital, em filmes como "Miami Vice" e "Inimigos Públicos"), tanto quanto o afasta (a ele e a Mann) da resposta de Pedro Costa, que submete a sua câmara a uma gravidade descomunal, impondo-lhe um "peso" que ela de facto não tem (o que, para além de ter origem no facto de Costa ser um cineasta do plano e do enquadramento, configura uma espécie de ética, e de resistência ao próprio digital). O que aproxima Mann e Costa, evidentemente, é a crença na luz como coisa a redescobrir: que ninguém diga que já tinha visto a luz da "Vanda" ou a luz de "Miami Vice". Mencionar, ainda, já que se falou de "resistência", o espantoso trabalho sobre as possibilidades plásticas do digital, conduzidas em direcção ao minimalismo, do espanhol Albert Serra em "O Canto dos Pássaros", o filme mais "2D" desde há muito. Em "double bill" com "Avatar" mostraria bem como um filme pode ser "chato" sem ser "achatado", e "achatado" sem ser "chato".


6. Ainda a propósito da questão económica, importaria referir que o eterno "parente pobre" dos géneros cinematográficos, o documentário, sobreviveu aos 2000 em grande parte graças ao digital. Para o bem ou para o mal, ou melhor dizendo, para o bem e para o mal (não se pode querer ter só uma coisa). As propriedades "domésticas" dos aparatos digitais (novo sentido para a "câmara-stylo" de Astruc) propiciaram até uma nova voga do registo diarístico, pessoal e quotidiano, de que os exemplos mais conhecidos serão os filmes de Agnès Varda ("Os Respigadores e a Respigadora", a abrir a década, e "As Praias de Agnès", a fechar).


7. O caos de um mundo encharcado em imagens. O YouTube. O 11 de Setembro (em rigor, e num sentido que levaria demasiado tempo a explicar, a televisão desse dia devia entrar numa lista do mais "relevante" da década), cujas imagens assombraram o resto da década, inclusive no YouTube, e muito para além da América (o mais genial contracampo do 11 de Setembro é o plano final do "Filme Falado" de Oliveira, e pouco que importa que o filme seja o seu mais fraco). Esta ameaça difusa que vem da sensação de o 11 de Setembro ter sido dissecado "clandestinamente", com imagens de telemóveis, de câmaras de segurança, e etc. Para uma geração inteira (para mais do que uma geração), correspondeu à noção de uma perda da inocência. Uma câmara de telemóvel não pode ser um brinquedo se serve para registar o mais traumático assassínio em massa de tempos recentes. O vídeo - o vídeo caseiro, vulgar de Lineu - como instrumento dúbio, invasor e invasivo ao mesmo tempo, como aparelho capaz de construir, por "roubo", uma verdade para além das verdades oficiais. Uma menção para todos os filmes que foram atrás deste "zeitgest" tão "anos 2000". O "Caché" de Haneke e o seu par perfeito, o "Afterschool" de Antonio Campos. O "Redacted" de Brian de Palma, sobre a guerra do Iraque, e a sua versão melhorada, mais abstracta e mais paródica (mas muito menos vista e muito discutida, "são zombies, senhor"), o "Diário dos Mortos", dessa velha "térmita" do cinema americano que é George Romero.


8. E todos, velhos e novos, solitários quase sempre, obstinados por obrigação, que inauguraram ou continuaram as suas obras como se nada fosse. O velho Rohmer, que na "Inglesa e o Duque" des-diabolizou e domesticou o "efeito especial" (digital...), transformando-o em cartão pintado. James Gray e Wes Anderson.. Oliveira. Rivette. Godard, a transformar a amargura em coisa bela de se ver. Kaurismaki, sozinho e maltratado que nem um cão vadio, autor dos dois filmes mais comoventes da década ("Um Homem sem Passado" e "Luzes no Crepúsculo"). A majestade magoada de Eastwood. Outros, muitos outros. Aquilo a que dantes se chamava os "autores". Estão quase varridos das salas de cinema portuguesas. São zombies, senhor, e encontram-se numa das cinquenta salas dedicadas ao Harry Potter.



9. Que venha a década nova. "No surrender", como na canção de Bruce Springsteen.
Luís Miguel Oliveira, 07.01.2010

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Projecto Soares dos Reis

A escola Artística de Soares dos Reis celebrou no passado dia 12 de Janeiro de 2012 os seus 127 anos de existência, tendo sido criada oficialmente em 1884 como Escola de Desenho Industrial de Faria de Guimarães do Bonfim. Desde a sua origem que a escola acompanha e reflecte as transformações sociais que caracterizam a sociedade portuguesa, tanto no campo cultural como no campo político. Nos seus primeiros quarenta anos de existência, disponibilizou cursos de um forte pendor tecnológico e dirigidos à formação das classes trabalhadoras. A partir de 1948, a instituição passa a denominar-se Escola de Artes Decorativas de Soares dos Reis e começa a ministrar cursos especializados de cariz artístico, desenvolvendo também a vertente das Artes Gráficas. Com a reforma do ensino secundário de 1972/73, introduzem-se os Cursos Gerais e Complementares de Artes Visuais que, com o 25 de Abril de 1974, são suprimidos passando a escola a ser apenas uma escola secundária, a semelhança de todas as outras. Em 1986, a Lei de Bases do Sistema Educativo permite iniciar o processo que conduzirá à aprovação do estatuto de Escola Especializada de Ensino Artístico.

Em 2008 a Soares dos Reis muda-se para as actuais instalações na rua Major David Magno, abandonando o local original na rua da Firmeza no centro do Porto, ocupando agora um edifício concebido de raíz para as necessidades presentes e futuras ao nível da tecnologia, dos laboratórios e oficinas, condições essenciais para poder enfrentar os novos desafios que se apresentam ao nível do ensino artístico.

No que refere à oferta da escola em termos lectivos, esta faculta uma formação especializada no domínio Visual e Audiovisual através de currículos próprios concebidos especificamente para o ensino artístico especializado e adaptado à realidade e condicionantes de cada área. A Escola Artística Soares dos Reis oferece quatro Cursos Artísticos, nomeadamente Design de Comunicação, Design de Produto, Produção Artística e Comunicação Audiovisual, cada um deles com disciplinas específicas e de opção, que o aluno pode escolher como complemento à sua formação principal. Como oferta complementar às quatro áreas de formação, abriu no ano lectivo de 2008/2009 o Curso Profissional de Moda, e no ano de 2010/2011 o Curso Profissional de Técnico de Animação.

Dotada de um conjunto de professores especializados para cada uma das áreas vocacionais, a escola Soares dos Reis dá preferência a metodologias e formas de abordagem dos conteúdos com o objectivo fundamental da aquisição de conceitos e linguagens específicas, o domínio dos materiais, dos processos técnicos e de utilização de equipamentos, que permitam a leitura e compreensão dos vários fenómenos artísticos e um progressivo desenvolvimento dos processos de saber fazer e do saber criar. Em complemento ao corpo docente especializado e geral, a escola também possui um corpo de técnicos altamente especializados nas várias tecnologias complementares à oferta lectiva de cada um dos cursos, sendo estes responsáveis pela manutenção das máquinas, laboratórios ou oficinas da sua área, bem como pelo apoio ao desenvolvimento dos projectos por parte dos alunos.

Apesar da recente dotação de novos equipamentos e infraestruturas, a escola Soares dos Reis mantém em funcionamento vários recursos que têm vindo progressivamente a entrar em desuso, principalmente aquando da introdução das tecnologias digitais nas artes gráficas e no audiovisual. Para além desta preocupação em manter activos alguns métodos de produção e edição tradicionais com fins pedagógicos, a escola também tem recebido doações de equipamento desactivado da parte de instituições que entraram em processo de renovação dos seus recursos.
Certas áreas técnicas mantêm o seu funcionamento graças ao empenho e dedicação de toda a comunidade escolar, e principalmente da direcção, que tem consciência da importância em manter presentes os saberes e princípios básicos dos cursos ministrados pela escola. De realçar os laboratórios de revelação e ampliação fotográfica tradicional, as oficinas de fotocomposição e as de impressão tipográfica como exemplo deste princípio de manutenção de métodos de produção já pouco usuais.
Neste contexto de oferta, conservação e disponibilização destes recursos materiais, acaba por surgir também uma grande mais valia que a escola possui ao nível dos recursos humanos, com uma equipe de profissionais que trabalham junto destes equipamentos, mantendo em funcionamento e partilhando o seus saberes adquiridos principalmente pela sua vasta experiência na utilização destas tecnologias. A constante exigência da parte dos alunos, que ano após ano procuram explorar os limites de cada tecnologia na elaboração dos seus projectos, vão elevando as capacidades e saberes destes profissionais na sua área de trabalho.
Surge aqui então um contexto singular em que antigos saberes e sistemas de produção tradicionais se conjugam com as novas gerações e modos de operar mais recentes num universo académico em que o desafio e a exploração andam de mãos dadas, com os alunos a sentirem grande entusiasmo pela oportunidade de tomarem contacto com métodos e tecnologias já pouco acessíveis.

Na maioria das disciplinas de vertente tecnológica e prática, foram identificadas poucas oportunidades de desenvolver um projecto focado nos desperdícios ou sobras que possam ocorrer nas oficinas. Num contexto lectivo com um forte cariz experimental e exploratório tudo é potencialmente aproveitável. E o panorama actual de contenção orçamental generalizada, particularmente em organismos públicos, implica um bom juízo na gestão dos recursos limitados que a escola dispõe. Nos cursos de Produção Artística e Design de Produto são reutilizados os mais pequenos restos de tecidos, metais, madeiras ou outros materiais para experiências ou na realização de novos trabalhos. Em Comunicação Audiovisual os principais suportes de trabalho são digitais, à excepção dos laboratórios fotográficos que ainda assim não produzem qualquer desperdício significativo, o mesmo ocorrendo no curso Design de Comunicação.

No entanto, o departamento das Artes Gráficas revelou possibilidades interessantes de algum projecto na área da nossa disciplina de Seminários (do Design?). Apesar dos desperdícios serem poucos e de reduzida dimensão, apresentam muitas vezes expressões gráficas curiosas e apelativas em suporte de papel de pesos composições variadas. Os materiais que compoem o desperdício de Artes Gráficas permitem explorar uma área de trabalho enraízada em fortes tradições na cidade do Porto, que são os universos da Animação e dos Brinquedos Ópticos. (*** Pode se falar de Cinanima, Manoel D'Oliveira, Filmógrafo, CasadaAnimação, etc ***)
Entre outras opções, a Animação e os Brinquedos Ópticos conjugam áreas de trabalho que na escola Soares dos Reis estão representadas em vários dos seus cursos, (Audiovisual,Anima,Produto?) mas ao mesmo tempo podem representar de uma forma original alguns dos valores da própria escola. Os Brinquedos Ópticos mais simples são no fundo pequenos dispositivos técnicos que permitem diferentes modos de expressão visual lúdica e apelativa, conceitos que facilmente relacionamos com a Soares dos Reis.
A escola artística de Soares dos Reis é reconhecida como uma estabelecimento de ensino (desenvolver texto sobre a especificidade da escola e da sua representatividade no campo das artes da região em que se insere ... )

Possibilidades:
A) Um projecto de artigos significativos de merchandising para a escola

B) Um projecto de estudo aplicado, cujo principal objectivo é realizar toda a cadeia de comercialização até ao fim, calculando a partir de uma pequeníssima amostra qual a margem de lucro obtido e a "Taxa de esforço" que a instituição teve que empregar.

Referência para aluguer de espaços na escola Soares dos Reis ao abrigo da iniciativa "Abrir a escola à comunidade - Cedência de instalações" da Parque Escolar.

A Gruta dos Sonhos e o Cinema 3D

Estreou recentemente entre nós nas salas comerciais o filme "A Gruta dos Sonhos Perdidos".
Para além da temática fascinante, o filme foi para mim um sinal de esperança na tecnologia 3D. Se tantas vezes o cinema de ficção tem-me defraudado na exploração das possibilidades dramáticas da tecnologia, o cinema documental revela poder ser um campo onde o 3D nos pode levar realmente a novas dimensões.


Reconheço que as recentes tecnologias de exibição tridimensional têm vindo a desiludir-me.
Após um período inicial de forte entusiasmo onde, por razões profissionais e académicas, acompanhei os primeiros desenvolvimentos da área, aguardei com grande expectativa a chegada deste universo aos grandes filmes da indústria do cinema. O que parecia o início de um caminho curioso e cheio de potencialidades, no geral veio a resumir-se a uma mera demonstração de efeitos especiais exóticos e inúteis que tantas vezes apenas perturbam o desfrutar natural e relaxado do filme.

Vi bastantes filmes em 3D que não achei particularmente interessantes. Mas frequentemente adorei revê-los em imagem tradicional, onde facilmente me envolvia nas suas tramas e ambientes. A realidade é que o 3D não fazia falta nenhuma à história, muito pelo contrário. Na minha opinião, a única obra que até ao momento explorou profundamente as possibilidades dramáticas abertas pela tecnologia foi o filme Avatar, de James Cameron. Não que o 3D seja indispensável para a história, que até é relativamente banal. Mas, conjugado com a passagem das personagens para o universo alternativo do planeta Pandora, uma leve profundidade era criada à nossa volta que enriquecia a nossa imersão no ambiente do planeta.

Tudo isto a propósito do filme "A Gruta dos Sonhos Perdidos", de Werner Horzog.
O filme descreve uma expedição exclusiva de vários cientistas à gruta de Chauvet-Pont-d'Arc, descoberta em 1994, onde foram identificadas centenas pinturas primitivas em excelente estado de conservação, algumas com mais de 30.000 anos - as mais antigas algumas vez encontradas. Acompanhando cientistas de diferentes áreas, o filme permite acedermos a um local inacessível para o comum dos cidadãos, pois a gruta não permite quaisquer visitas e mesmo o acesso da comunidade científica é muito condicionado. A vantagem do 3D nesta obra face a um filme tradicional, ainda para mais visto numa sala de cinema, é que permite um envolvimento é muito maior criando a ilusão de nós próprios estamos a entrar nas grutas. O jogo de luz e sombras da exploração espeleológica parece combinar-se harmoniosamente com a projecção cinematográfica, como se a sala fosse também ela uma recanto da própria gruta. O equipamento utilizado pelos cientistas e as suas dificuldades em transpor as passagens mais difíceis fazem-nos sentir priveligiados por estarmos sentados e munidos de uns simples óculos, acompanhando a exploração sem as dificuldades de estarmos fisicamente na gruta.

E depois há a descoberta das pinturas que a tridimensionalidade do filme amplia e realça. Habituados que estamos a observar estas pinturas em páginas bidimensionais de livros ou revistas, descobrimos uma volumetria de figuras belíssimas, com faces ocultas em que a imagem nunca é totalmente visualizada, num jogo dinâmico de fundos e formas em descobertas constantes que só o cinema permite. Foi para mim uma verdadeira revelação vislumbrar aquelas imagens no seu real contexto, que enhuma representação fotográfica poderá fazer justiça.

As experiências de cinema 3D, quando aliadas a narrativas documentais, são verdadeiramente enriquecedoras. Lembro-me de outros exemplos, como as filmagens dos astronautas da Nasa na Estação Espacial Internacional ou o documentário sobre as gigantescas ondas de Teahupo'o no Tahiti. O facto de estarmos perante imagens captadas em contexto real, realizadas com o propósito de descreverem locais ou acções concretos e que nunca teríamos acesso em condições normais, justifica o recurso ao 3D como forma de melhor transmitir a informação - e nos melhores exemplos, a sensação de lá estar. No fundo, vêem acrescentar novos níveis de informação ao documentário.

Mas poderão facilmente ir além disso, recriando os universos mais suis generis nas nossas salas de cinema. E sem precisarem de atirar miríades de objectos na nossa direcção só porque é possível. No cinema documental, se algo salta na nossa direcção é a sério. E isso faz toda a diferença.

Nuno Lacerda

sábado, 8 de outubro de 2011

Pre-Ob

Na série West Wing encontro muitas influências da vida real nos seus argumentos e, ainda mais incrível, algumas influências da série na vida real. Por vezes ideias são testadas, argumentos são esgrimidos ou cenários e hipóteses são trabalhadas que porteriormente vêem a acontecer. Este é mais um desses exemplos:

According to an article in The New York Times (29 October 2008), shortly after then-Illinois state senator Barack Obama spoke at the 2004 Democratic National Convention, The West Wing writer Eli Attie had several long telephone conversations with David Axelrod, a political consultant who was then working on Obama's U.S. Senate campaign. From those conversations, Attie modeled the character of Matthew Santos after Obama's political and personal life. Like Santos, Obama eventually won his race for the presidency. Likewise, according to an article in The Guardian (6 November 2008), the character of Josh Lyman was modeled after Rep. Rahm Emanuel; on the show, Lyman became President Santos' Chief of Staff, while Obama's first staffing announcement after his 2008 election was to name Emanuel as his Chief of Staff.
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Best Tv Shows ever

Seinfeld
1990-1998
'No hugging, no learning'. That was rule that Jerry Seinfeld himself when making his eponymous sitcom and he stuck with it. The daily goings on of jobbing stand-up Jerry and his three strange friends were always standalone incidents. There were no cliff-hangers here and no lasting inter-group romance (Jerry and Elaine got most of that out of the way before the show started). Instead they kept the audience's attention by being very, very funny.
- Best Episode
The Soup Nazi (Season 7, Episode6). George tries to buy soup but fails to obey the owner's rule. So, "No soup for you!"
- Did You Know?
Jerry Seinfeld turned down a payday of around $110 million for a tenth season.

The West Wing
1999-2006
For a long time a walk-on part in The West Wing was the pinnacle to which all jobbing TV actors aspired. Smart and funny, Aaron Sorkin's political drama showcased the writer's gift for rapid-fire dialogue and layered, politically resonant storylines, proving that television can be funny and insightful all at the same time. The series took a temporary downturn after Sorkin's departure at the end of season four but rallied soon after with a number of surprising changes to both character roles and format. It all came to a natural close at the end of President Bartlet's second term in office but The West Wing remained one of the most intelligent shows on television throughout its run and a comforting image of what a more benevolent White House could look like.
- Best Episode
Two Cathedrals (Season 2, Episode 22). The episode with Mrs Landingham's funeral and the closing scene on the podium where Bartlet decides to run for re-election.
- Did You Know?
The president was originally written as a minor character with little actual screen time. Audience reaction to Martin Sheen was so positive, however, that he soon became a leading role.

The Sopranos
1999-2007
Those who tuned into the first episode of The Sopranos in 1999 found not a documentary about opera singers but a dark, offbeat drama about a New Jersey gangster with a fixation on the ducks who visit his swimming pool. As the first season wore on, viewers became hooked on creator David Chase's uncompromising vision of an old-school criminal organisation beset by all the stresses and tensions of the modern day. A fusion of sharp, unpredictable writing and powerhouse acting ensured this show classic status, spawning a videogame, spoofs by The Simpsons and the Clintons (!) and an Artie Bucco recipe book, so you can make like Tony and feast on 'gabagool' yourself.
- Best Episode
Long Term Parking (Season 5, Episode 12), in which... well, we won't give it away. Let's just say that two of the show's best characters have an eventful car ride and leave it at that.
- Did You Know?
The Bada Bing strip club is actually a go-go bar in Lodi, NJ, called Satin Dolls.

The Simpsons
1989-Present
Could it really be anything else? You can put The Simpsons in almost any category you like and it will come out on top. Best animated show. Best sitcom. Best family show. The list goes on. It's ageless, both in the quality of the jokes and the people it appeals to. Bart was originally intended as the focus of the show, but the brilliance of the writing means the rest of the family has come to be equally beloved. People complain about a dip in quality now that it's reaching its third decade, but even sub-par Simpsons is better than 90% of TV comedy. At its greatest, it's untouchable. Best. Show. Ever.
- Best Episode
King Size Homer (Season 7, Episode 7). The family patriarch tries to eat himself to 300lb and thus qualify as disabled so he can work at home. An unimprovable mix of sharp dialogue, hilarious site gags and heart.
- Did You Know?
Bart is the only character not to be named after a member of creator Matt Groening's family.

Weeds
2005-Presente
After her husband's unexpected death and subsequent financial woes, suburban mom Nancy Botwin (Parker) embraces a new profession: the neighborhood pot dealer. As it seems like everyone secretly wants what she's selling -- even city councilman Doug Wilson (Nealon) -- Nancy is faced with keeping her family life in check and her enterprise a secret from her neighbor/pseudo-friend/PTA president, Celia Hodes (Perkins).

Dexter
2006-Present
The last thing the world needed was another series about a forensic scientist but it certainly adds something to the mix when said CSI is also a recreational serial killer. Mischievously sadistic, Dexter is a darkly amusing tale of a psychopathic monster living in the heart of sunny Miami and trying to reconcile his stabbier urges with being an otherwise decent guy. Michael C Hall is flawless as the carver in question and the show sports one of the cleverest title sequences around.
- Best Episode
Born Free (Season 1, Episode 12), where Dexter finally learns the truth about the Ice Truck Killer, who brings him a very special gift.
- Did You Know?
Dexter's aliases are often taken from the novels of Brett Easton Ellis, including The Rules of Attraction's Sean Ellis and American Psycho's Patrick Bateman.

True Blood
2008-Present
The series follows Sookie Stackhouse, a barmaid living in Louisiana who can read people's minds, and how her life is turned upside down when the Vampire Bill, walks into her place of employment two years after vampires 'came out of the coffin' on national television.

Studio 60 on the Sunset Strip
2006–2007
A behind-the-scenes look at a fictional sketch-comedy TV show.

Heroes
2006-Present
We'd heard shows before boast about 'cinematic' production values, but Tim Kring's Heroes actually meant it. Every super-charged hour boasts lavish amounts of special effects - Hiro's time-freezing abilities are particularly cool - and a classy, noirish aesthetic partly inspired by M. Night Shyamalan's Unbreakable. But eye-candy alone wouldn't have won Heroes its place on this list. Kring's genius was in bolting the flashy action onto a slow-burning storyline full of shadows and mystery. And having a really cute, invincible cheerleader in the cast doesn't hurt none either.
- Best Episode
Five Years Gone (Season 1, Episode 20), which saw Hiro and Ando travel five years into the future, finding out what will happen if New York actually explodes. It climaxes with a spectacular showdown, as noble Peter and evil Sylar do battle with fire and ice.
- Did You Know?
James Kyson Lee, who plays Ando, can't speak a single word of Japanese.

South Park
1997-Present
The Guinness World Record holder for "Most swearing in an animated series", Trey Parker and Matt Stone's crudely animated monster is going strong more than ten years later after we were first introduced to Cartman and the boys. Still offending just about everybody on the planet, it has avoided jumping the shark by continuously changing its targets and, most importantly, remaining incredibly funny. While it's undeniably puerile, the secret of South Park's success lies in the fact that its intentions are essentially good. Those who challenge common sense and general decency are the ones in the firing line - anybody else who gets hit are, well, collateral damage.
- Best Episode
Make Love, Not Warcraft (Season 10, Episode 8). Merrily ripping the piss out of the sacrosanct game, this outstanding episode finds the South Park boys working around the clock to improve their character skills so they can beat an asshole online player.
- Did You Know?
Matt Stone records Kenny's dialogue by talking into his sleeve.

Monty Python's Flying Circus
1969-1974
Years before they incurred the wrath of right-wing Christians with Life Of Brian and messed about the Arthurian legend with The Holy Grail, the Monty Python team re-imagined TV comedy with the silliest and strangest sketch show ever devised. Thanks to the imagination of John Cleese, Terry Jones, Graham Chapman et al (and the bravery of the BBC), the show has somehow stood the test of time - who would have thought that a song about Spam would still be funny over 30 years later?
- Best Episode
The Spanish Inquisition (Series 2, episode 2). The Parrot Sketch, The Ministry Of Silly Walks, The Lumberjack Song None of these classic sketches feature in this episode, but what you do get is - and nobody will expect them -The Spanish Inquisition. Repeatedly crashing in on other sketches and constantly screwing up their lines, they represent the anarchic silliness that became the Pythons' stock in trade.
- Did You Know?
Other possible names for the series were Gwen Dibley's Flying Circus; Owl-Stretching Time; Bun, Whackett, Buzzard; Stubble And Boot; and A Toad Elevating Moment.

Ally McBeal
1997–2002
Ally McBeal and Billy Thomas were going steady throughout their childhoods. Ally even followed Billy to Harvard law school despite having no interest in law. But when Billy chose to pursue a career in law away from Ally, their relationship came to an end. In the present, an old classmate of Ally's named Richard Fish gives Ally a job at his law firm, where Billy and his new wife are also working. This puts Ally in a predicament since she still has feelings for Billy which she's laboring to get over. At the office, Ally puts up with a nosy, gossiping secretary named Elaine, and an oddball lawyer named John Cage never seems to lose a case. At home, Ally's friend and house-mate Renée regularly advises her on her love life. The series follows Ally's trials and tribulations in life through her eyes, and caricaturizes her personal thoughts and fantasies.

Family Ties
1982–1989
A couple who were ardently leftwing political activists in the sixties face the problems of raising a family with children who have strongly conservative views.

Hill Street Blues
1981–1987
The original "ensemble drama," this is the story of an overworked, under-staffed police precinct in an anonymous inner city patterned after Chicago. We follow the lives of many characters, from the lowly beat and traffic cops to the captain of the precinct himself. This is the show that blazed the trail followed later by such notable ensemble dramas as "St. Elsewhere" and "L.A. Law."

Sex and the City

1998-2004
It's developed a reputation as a silly show about shoes and cocktails, but the fashion obsession hides a series that was often extremely smartly written and incredibly brave. It's easy to forget now how groundbreaking the adventures of four Manhattan 30-somethings were not just for women on TV, but for the treatment of sex on the box. The entire vibrator industry owes Carrie and Co an enormous debt.
- Best Episode
The Agony and the Ex-tacy (Season 4, Episode 1). As Carrie turns 35, the girls reflect on being 30-something and single. It faces up to the potential sadness of the show's premise and turns it into a positive.
- Did You Know?
In the script for one episode, the nameless Mr Big was jokingly listed as Boris. His name is actually John.

Algumas das melhores séries de sempre neste momento.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

10 mentiras para enrolar designers e ilustradores

1) “Faça esse trabalho barato (ou de graça) e no próximo pagaremos melhor”
Nenhum profissional que se preze daria seu trabalho de mãos beijadas na esperança de cobrar mais caro mais tarde. Você consegue imaginar o que um advogado diria se você dissesse “me defenda de graça dessa vez que na próxima vez que eu precisar de um advogado eu te chamo e pago melhor”. Ele com certeza riria da sua cara.

2) “Nós nunca pagamos 1 centavo antes de ver o produto final”

Essa é uma pegadinha. A partir do momento que você foi contratado para fazer o trabalho você DEVE pedir uma entrada. O motivo é simples, você está trabalhando desde o momento que se dispõe a fazer a reunião de briefing. Talvez um cliente mais inexperiente queira pagar após ver alguns esboços. Cabe a você aceitar ou não.

3) “Esse trabalho será ótimo para seu portfolio! Depois desse você vai conseguir muitos outros”
Essa é uma das mais típicas. E costuma fazer vítimas principalmente entre jovens que ainda estão estudando. Para não cair nessa, basta pensar “quanto o seu cliente vai faturar com o seu trabalho?”. Além disso, não esqueça que, mesmo que ele indique seu trabalho para outras empresas, com certeza ele dirá quanto custou (ou se foi de graça) e imagine o que os próximos irão querer?

4) Olhando para seus estudos e rascunhos: “Veja, não temos muita certeza se queremos seu trabalho. Deixe esses estudos comigo e vou falar com meu sócio/investidor/mulher, etc e depois te dou uma resposta”
Não dou 5 minutos para ele ligar para outros designers com seus estudos e conceitos criados na mão barganhando melhores preços. Quando você ligar de novo ele dirá que seu trabalho está muito acima do mercado, blá blá blá, e que Fulano Designer vai fazer o trabalho. Mas como eles conseguiram outro designer mais barato? Lógico, você já passou o conceito todo criado! Economizou horas para o designer que vai pegar o trabalho. Então, enquanto você não entrar em acordo com seu cliente NUNCA DEIXE NADA CRIATIVO no escritório dele!

5) “Veja, o job não foi cancelado, somente adiado. Deixe a conta aberta e continuaremos dentro de um mês ou dois”

Provavelmente não. Seria um erro você não faturar o que foi feito até o momento esperando que o trabalho continue depois. Ligue em dois meses e você verá que alguém estará trabalhando no job. E adivinhe! Eles nem ao menos sabem quem você é… e o dinheiro do início do trabalho, lógico, já era!

6) “CONTRATO?? Nós não precisamos assinar contratos! Não estamos entre amigos?”
Sim, estamos. Até que alguma coisa dê errada ou ocorra um mal-entendido, e você se transforme no meu maior inimigo e eu sou o seu “designer estúpido”, aí o contrato é essencial! Simples assim! Ao menos que você não ligue em não ser pago. Qualquer profissional usa um contrato para definir como será o trabalho e você deve fazê-lo também!

7) “Envie-me a conta depois que o material for pra gráfica”
Por que esperar por esse deadline irrelevante? Você é honesto, não? Por que você deveria ficar preso a esse deadline? Uma vez entregue o trabalho, fature! Essa desculpa possivelmente é uma tática para atrasar o pagamento. Assim o material vai pra gráfica, precisa de alterações intermináveis e, adivinhe, ele arranja outra pessoa pra fazer as alterações necessárias, o material vai pra gráfica e você nem fica sabendo!

8 ) “O último designer fez esse job por €€€ XX”
Isso é irrelevante. Se o último designer era tão bom por que ele te chamou? E quanto o outro cobrava não significa nada pra você. Pessoas que cobram muito pouco pelo seu tempo acabam fadadas ao insucesso (por auto-destruição financeira). Faça um preço justo, ofereça no máximo 5% de desconto e não abra mão disso.

9) “Nosso orçamento para esse job é de XX Euros”
Interessante, não? Um cara sai para comprar um carro e sabe exatamente quanto ele vai gastar antes mesmo de fazer uma pesquisa. Uma quantia de trabalho custa uma quantia de dinheiro. Se seu cliente tem menos dinheiro e ainda assim você quer pegar o trabalho, dedique menos horas a ele. Deixe isso bem claro ao seu cliente, que você dedicará menos tempo que o estimado para finalizar o trabalho porque ele não pode pagar por mais horas. A escolha é sua.

10) “Estamos com problemas financeiros. Passe o trabalho para nós e, quando estivermos em melhor situação, te pagamos.”

Claro, mas pode contar que, quando o dinheiro chegar, você estará bem lá no final da lista de pagamentos. Se alguém chega ao ponto de admitir que está com problemas financeiros então provavelmente o problema é bem maior do que parece. Além disso, você por acaso é um banco para fazer empréstimos? Se você quer arriscar, pelo menos peça dinheiro adicional pelo tempo de espera. Um banco faz isso, não faz? Por que provavelmente esse é o motivo deles quererem atrasar seu pagamento, ter 6 meses de dinheiro “emprestado” sem ter que pagar juros, o que não aconteceria se ele tivesse que emprestar do banco. Não jogue dinheiro fora!

Bom, o motivo de tudo isso não é deixar você paranóico ou coisa do tipo, mas sim injetar um pouco de realidade no mundo de fantasia da maioria dos designers. Você certamente vai tratar com pessoas muito diferentes de você. As motivações e atitudes certamente são diferentes. Eu infelizmente vejo, muitas vezes, exemplos de pessoas envolvidas em situações com a mais nobre das intenções e acabam literalmente se dando mal. Porque a maioria dos designers enxergam os trabalhos como uma oportunidade de fazer aquilo que mais gostam com dedicação, simplesmente porque amam o que fazem! A outra parte não tem a negociação tão idealizada ou romantizada, muito pelo contrário.

Como lidar com todas essas coisas e ainda assim fazer um trabalho criativo? Boa pergunta! É por isso que ir atrás da informação é importante. Você aprende a trabalhar com todas as técnicas do design, mas não aprende a arte da negociação. Muitos designers ignoram este aprendizado, o que é um grande erro. Sugiro que o mínimo seja incorporado assim certamente você não sentirá seu trabalho como uma grande perda de tempo e dinheiro!

Retirado daqui. Original em inglês.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Una universidad

O filósofo espanhol Emilio Lledó, que é tão catedrático como Santos Juliá, teme-o afirma sem hesitações que «una universidad pragmatica es la muerte del saber, de la cultura, y es el peor servicio que se le pude hacer a nuestra sociedad» (El País, 11/7/1998) (…)

A prestação de serviços à comunidade exorta as universidades a colaborarem com as autarquias e as empresas das zonas onde estão sediadas. É um propósito edificante, sem dúvida, mas tem limites. Os laboratórios universitários existem para fazer investigação fundamental, não para solucionar problemas fabris de organização ou racionalização da produção. Os industriais não podem pretender orientar ou condicionar a investigação universitária, mesmo que utilizem poderosos argumentos e natureza economicista. As faculdades, por seu turno, têm de resistir às promessas de lucro imediato, porque essa lógica é empresarial e não científica (…).

A garantia de saídas profissionais para os cursos superiores, que nunca foi uma incumbência da instituição universitária desde os tempos medievos até à actualidade (as faculdades não são agências de emprego), tornou-se nos dias de hoje uma espécie de obrigação moral para as universidades de todo o mundo. Julgo que nenhuma faculdade do nosso país se alheou da questão e, dentro das suas possibilidades (que são escassas, porque a universidade portuguesa nunca teve poder de decisão a nível económico e nos últimos quinze anos perdeu boa parte de influência que historicamente sempre exerceu junto dos políticos), todas tentam garantir um futuro profissional digno para os seus licenciados. Mas, convenhamos, a tarefa não é fácil, pois a frágil economia portuguesa não garante a existência de um grande número de postos de trabalho destinado aos especialistas universitários, bastando duas ou três licenciaturas para esgotar as carências momentâneas existentes num determinado sector. Reaparecem, então, as notícias nos jornais sobre os «doutores no desemprego».

Nessa altura tomam-se decisões precipitadas e patéticas. Na ânsia de encontrarem colocação no mercado de trabalho para os seus diplomados, as faculdades criam novos cursos com designações apropriadas para as circunstâncias imediatas, adoptando critérios que têm muito a ver com o marketing e pouco com a ciência, a técnica ou a cultura.”

Manuel F. Canaveira, Referência bibliográfica: Canaveira, M.F. (1998). As ficções neo-liberais. Ler, n.º43, 44-47 e 126-127.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Iberismos

Durante o seu longo processo histórico, verificaram-se vários modelos de organização política da Península Ibérica. Variaram entre a existência de um único poder político peninsular, até à coexistência de mais de uma dúzia de Estados independentes.
O modelo "visigótico" caracteriza-se por uma península unipolar. Existiu por pouco tempo (cerca de um século), quando os visigodos alargaram o seu poder a toda ela; repetiu-se imediatamente depois de concluída a conquista muçulmana (por um período de tempo ainda menor); e a última Ibéria unificada, a dos Filipes, é também historicamente breve (1580 - 1640).
Igualmente, o modelo das "Taifas", com a península muito fragmentada, pelo aparecimento de uma multiplicidade de micro reinos (sobretudo islâmicos) durante o século XI, nem chega a atingir o fim desse século, com a chegada dos Almorávidas, que reunificaram politicamente o território islâmico.

Estas duas situações extremas foram todas de uma duração breve, como se houvesse algo que impulsionasse para a fragmentação política, no primeiro caso, e para a unificação, no segundo.

Os modelos mais frequentes, mais duráveis e de maior estabilidade registaram-se com a convivência de várias (entre três a seis) unidades políticas e/ou administrativas. O exemplo clássico desse modelo, que poderemos designar por "romano", manteve-se nos 500 anos da existência do Império (3 a 5 províncias); regressou durante os últimos duzentos anos do final da Idade Média (5 reinos) até à unificação espanhola e à extinção do reino de Granada (1492).
Tratava-se de uma situação multipolar, em que as unidades por que a península se repartia dependiam principalmente do potencial que produziam e também do jogo estratégico das suas relações (no caso do período medieval). Todos os pólos tinham uma dependência política de um centro que lhes era exterior. De forma evidente quando Roma era capital do Império, de forma mais subtil quando esta passou a ser a sede da cristandade.

O modelo a que chamamos "de Tordesilhas" prevaleceu, grosso modo, a partir da data (1494) em que foi assinado o tratado com o mesmo nome, até à actualidade. Traduz-se numa Ibéria bipolar (Portugal, um Estado nacional, e Espanha, um Estado plurinacional), em que os potenciais estratégicos dos dois países, bem diferentes na península, são exponenciados pelas fatias de mundo que, respectivamente, descobriram e colonizaram, de tal modo que se tornaram praticamente a principal, quase única fonte dos seus rendimentos. A progressiva ascensão de outras potências europeias, que lhes iam reduzindo os territórios de exploração, e as sucessivas descolonizações que se viram obrigados a fazer, enfraqueceram-nos.
A liquidação dos impérios coloniais produziu efeitos que permitem afirmar que o modelo de "Tordesilhas" (península bipolar) se encontra em crise. Que se deve também ao novo contexto surgido com o final da guerra fria - globalização, desaparecimento das fronteiras para os movimentos de pessoas, bens e capitais no interior da península, por efeito da pertença dos seus dois Estados à União Europeia, alinhamento estratégico idêntico nas principais questões internacionais, com a Espanha a voltar-se para o Atlântico quando tradicionalmente preferia o continente. Todos estes factores colocam desafios tais à organização política peninsular actual, que não admira que o modelo de Tordesilhas esteja a ser posto em causa.

Aqui chegados, três hipóteses se levantam: manter-se o modelo actual, apesar dos ataques violentos a que está a ser sujeito; ser substituído por um único Estado alargado a toda a península, pela absorção de Portugal pela Espanha; ou caminhar-se para um modelo do tipo romano, com uma ordem regional multipolar, constituída por três, quatro ou cinco unidades políticas independentes, em que as regiões espanholas com maior identidade nacional e mais ricas assumem o poder político, - Portugal, e, eventualmente: o remanescente do actual Estado espanhol, País Basco, Catalunha, Andaluzia e Galiza, todas dirigidas em parte por um poder regulador exterior à região (órgãos institucionais da União Europeia).

Os actuais factores dominantes que, provavelmente, ditarão o sentido da evolução são: o desaparecimento das fronteiras, por via da UE; e, porventura, o posicionamento de cada um dos Estados peninsulares relativamente aos EUA, enquanto única superpotência, combinado com a forma como ela olhar para a península.

O primeiro parece-me o decisivo. Em termos económicos, a Ibéria já é multipolar. Na Espanha, por virtude da artificialidade geométrica do seu centro político que surgiu apenas por motivos político-estratégicos, os grandes centros periféricos, onde a península produz riqueza, tendem a constituir pólos em competição. Esta competição pode conduzir à diminuição do poder político da capital, como parece estar a ser tentado. O que é susceptível de conduzir ao perigo de fragmentação, se as políticas do centro forem demasiado assertivas, típicas de quem está na defensiva, em vez de se limitarem às linhas essenciais, para a impedir. Muitos já prenunciam que o rei se transformará no único elemento unificador. As regiões centrais, mais pobres, que gravitam à volta do centro geométrico e deste facto beneficiam, reagirão.

A actual multipolaridade económica abrange Portugal, por força das regras da União. Terá de competir arduamente com os outros poderosos pólos existentes, como a Catalunha e o País Basco (no futuro, eventualmente outros), entre os quais Madrid, simultaneamente núcleo político. Portugal, relativamente aos restantes, com excepção de Madrid, tem a vantagem de ter também poder político, mas pode enfraquecer se perder a competição económica. O essencial depende do resultado do jogo económico, que está na mão dos portugueses com voz activa nas empresas, especialmente das nacionais. O Estado português apenas deverá limitar-se a fazer aquilo que os restantes Estados da UE fazem, seguindo o exemplo de Madrid. Ou seja, o futuro está nas nossas mãos. Poderemos ter as mesmas vantagens dos outros, caso saibamos aproveitar as oportunidades que se criaram pela abertura dos mercados à nossa ambição.

As condições são-nos mais favoráveis que a Madrid. Enquanto este centro tenderá a perder poder político, por efeito do jogo económico, nós poderemos aumentá-lo, pelo mesmo motivo. Mas também poderemos perdê-lo. O que ditará o futuro.
Dispomos de vantagens que sobressaem. Uma é a recomposição do espaço, em termos de atracções e repulsões, propiciado pelo fim das fronteiras, em função, já não do factor político geométrico, mas sim do potencial de riqueza das regiões. O hinterland de toda a costa ocidental da península tenderá a ser atraído pelo mar, o que envolve grande parte da Estremadura e da região de Leon. O Norte português pode transformar-se num importante pólo de atracção do Noroeste Peninsular. Adoptemos nós políticas activas de ordenamento, que contrariem a lógica da centralidade geométrica, e promovam as ligações periféricas na península (também desejadas pelos outros pólos naturais) e as ligações directas à planície europeia, e às economias das duas margens do Atlântico (Norte e Sul) e dos países europeus para lá da Espanha. Além de sermos sagazes e eficientes no jogo político e económico de compensação e de afirmação, com os poderes que marginam o Atlântico, especialmente os EUA e o Reino Unido, além do Noroeste africano, Brasil e Angola, sem esquecer a Ásia.

Em suma, está nas nossas mãos que o futuro seja, no mínimo, a manutenção do actual modelo. Existem condições para o tornarmos menos assimétrico. Se as políticas assertivas de Madrid se acentuarem, poderemos ser confrontados com uma transição para uma multipolaridade complexa, susceptível de custos elevados, pelo que, para os minimizar, devemos prever que atitudes promover nesta hipótese. Não parece provável que alguém esteja interessado, muito menos tenha condições de impor um modelo unipolar, que seria desastroso para todos.

Se formos sábios e prudentes, manter-se-á o actual modelo bipolar mas menos desequilibrado, em que Portugal conviverá com um Estado espanhol despojado de muito do seu poder económico e politicamente mais débil.

Desconheço a origem...

Direita e esquerda

O uso mais comum da dicotomia esquerda / direita é como tradição identitária, assente na história política e ideológica dos últimos 200 anos, do mundo que emergiu do duplo processo da Revolução Francesa e da Revolução Industrial. Poderia ser enunciado assim: eu sou de esquerda ou de direita porque defendo as posições A e B, que historicamente foram associadas à esquerda ou à direita. Reconstruo assim a minha identidade pelas palavras, no seu uso histórico, que ainda permanece vivo na tradição actualizada. Há um forte componente afectivo nessa enunciação, um sentimento de pertença a uma família, a uma parte, a uma tradição, que transporta os seus ícones, os seus símbolos, os seus textos, as suas canções, o seu modo de "ser".
Começando a partir daqui, deste sentimento de pertença, em parte volitivo porque é uma escolha, noutra "de classe" ou de grupo porque fruto de uma história que "tomou partido", encontramos logo uma ambiguidade. Essa ambiguidade levaria a que fosse mais exacto enunciar a pertença nestes termos: eu sou de esquerda ou de direita porque defendo as posições A e B, que hoje estão associadas à esquerda ou à direita. Hoje, e não necessariamente ontem, porque a dicotomia reconstruiu-se ela própria historicamente e enuncia-se nos dias de hoje de forma diferente de ontem. Se quiséssemos ser mais rigorosos, teríamos que concluir que a dicotomia esquerda/direita, como é hoje utilizada de forma identitária, é pós-Maio 68, feita pela conjunção dos movimentos políticos radicais à volta desse ano e com a emergência de uma cultura juvenil de massas, geradora de ícones e símbolos poderosos.

Um caso típico das ambiguidades sobre a esquerda/direita tem a ver com a posição liberal face aos "costumes", tradicionalmente associada à esquerda. O liberalismo dos costumes só nos dias de hoje, depois de Maio de 68, é que é claramente ligado à esquerda. É verdade que alguns minoritários grupos anarquistas e radicais defendiam o amor livre, e as práticas anticoncepcionais, o "neo-malthusianismo", desde o início do século XX, mas basta ler a imprensa operária, e as suas injunções contra a "corrupção" moral da burguesia, os seus comentários sobre a embriaguez, e a prostituição, para encontrar um forte moralismo conservador que hoje deixaria a Igreja católica a parecer um centro de libertinagem. O próprio movimento comunista sempre foi tradicionalmente, até por herança do movimento operário oitocentista, muito conservador quanto aos costumes. De novo, é o movimento esquerdista de Maio 68 que retorna à valorização de autores como Reich, ou a momentos como o dos anos 20 na legislação soviética, esquecendo que estes não tiveram qualquer continuidade posterior, mais caracterizada pela forte repressão contra a homossexualidade ou pelo ataque à "dissolução" dos costumes. A legislação, aparentemente mais liberal quanto ao aborto ou ao planeamento familiar, dos países comunistas associava-se muito mais, como na China, a políticas de controlo da população do que a qualquer liberalismo dos costumes. (A ideia, muito portuguesa, que a distinção entre os defensores e críticos do aborto se faz entre a esquerda e a direita esquece o óbvio: que é muito mais importante nessa distinção a religião do que a política, e que, em muitos países que não são católicos, o problema está longe de se colocar nos mesmos termos. Esquece outras coisas que a leitura do Avante! dos anos 30 ou a tese académica de Cunhal sobre o aborto deveria lembrar.)

Outro aspecto desta reconstrução para o passado das dicotomias do presente, é a que considera a tradição ecológica na esquerda. A crítica ecológica, resumida de forma genérica como uma crítica ao modelo de industrialização ocidental, a favor de outros modelos alternativos menos predatórios dos recursos e voltando a uma visão mais "natural" da vida, seria tratada de reaccionária e anarquizante (no sentido de utópica e "rural") pela esquerda europeia até muito recentemente. O modelo de crescimento "socialista" era baseado exactamente no mesmo conceito predatório do capitalismo industrial, levando ainda mais longe a adoração da "electricidade" (em Lenine) para uma apologia do cientismo, na chamada "revolução técnico-científica" de que se gabava a RDA. Esta visão da industrialização estendia-se ao próprio modelo da sociedade como fábrica, elevando o sistema Taylor à forma suprema de "organização científica do trabalho". Stakhanov e Taylor, os "sovietes" e a "electricidade", a política e a tecnologia.

Para confundir a falsa clareza da identidade esquerda/direita não faltam exemplos. Eles parecem provocatórios porque o retorno que hoje se dá em Portugal à enunciação identitária pela dicotomia esquerda/direita só se pode fazer iludindo os grandes momentos traumáticos da história dessas palavras. A esquerda portuguesa não consegue pensar o comunismo; a direita o fascismo e, em particular, o nazismo. Ambas chegam ao absurdo de dizer que o "estalinismo era de direita e uma ruptura com a verdadeira esquerda" e que o nazismo, como "colectivismo totalitário", era de esquerda. A esquerda hoje diz que nada tem a ver com o comunismo e a direita com o fascismo, o que é uma forma de serem 'fukuyamistas' involuntários. A partir daqui tudo passa a ser confuso: no PC Chinês o que é que valorizamos, o impulso para a economia de mercado, ou a estrutura totalitária do poder? Em Pinochet o que é que valorizamos, a liberdade económica ou a ditadura política? Os bispos progressistas brasileiros são de esquerda porque defendem a reforma agrária, ou de direita porque são contra o aborto? Por aí adiante.

Concluo como comecei: a dicotomia esquerda/direita não tem hoje qualquer utilidade para olharmos para o mundo de forma criativa. O mundo que a originou acabou quando o legado da Revolução Francesa e da Revolução Industrial deixou de ser o pilar da contemporaneidade. Os "factos incómodos", de que Thomas S. Kuhn falava para as teorias científicas, foram pouco a pouco dissolvendo esse mundo: a bomba termonuclear acabou com a "guerra como continuação da política por outros meios" e mostrou a impossibilidade de uma "luta de classes" mundial sem apocalipse, as ideias de Malthus ganharam um novo fôlego com a crítica ecológica, o fundamentalismo religioso introduziu de novo a diferenciação cultural-civilizacional como mais importante do que o conflito "económico", etc. etc. Há tanta coisa para ver de novo, está na altura de ser curioso outra vez.
Historiador

Por José Pacheco Pereira em 28 de Outubro de 2004.

Top 10 Things

The Top 10 Things They Never Taught Me in Design School

1. Talent is one-third of the success equation.
Talent is important in any profession, but it is no guarantee of success. Hard work and luck are equally important. Hard work means self-discipline and sacrifice. Luck means, among other things, access to power, whether it is social contacts or money or timing. In fact, if you are not very talented, you can still succeed by emphasizing the other two. If you think I am wrong, just look around.
2. 95 percent of any creative profession is shit work.
Only 5 percent is actually, in some simplistic way, fun. In school that is what you focus on; it is 100 percent fun. Tick-tock. In real life, most of the time there is paper work, drafting boring stuff, fact-checking, negotiating, selling, collecting money, paying taxes, and so forth. If you don’t learn to love the boring, aggravating, and stupid parts of your profession and perform them with diligence and care, you will never succeed.
3. If everything is equally important, then nothing is very important.
You hear a lot about details, from “Don’t sweat the details” to “God is in the details.” Both are true, but with a very important explanation: hierarchy. You must decide what is important, and then attend to it first and foremost. Everything is important, yes. But not everything is equally important. A very successful real estate person taught me this. He told me, “Watch King Rat. You’ll get it.”
4. Don’t over-think a problem.
One time when I was in graduate school, the late, great Steven Izenour said to me, after only a week or so into a ten-week problem, “OK, you solved it. Now draw it up.” Every other critic I ever had always tried to complicate and prolong a problem when, in fact, it had already been solved. Designers are obsessive by nature. This was a revelation. Sometimes you just hit it. The thing is done. Move on.
5. Start with what you know; then remove the unknowns.
In design this means “draw what you know.” Start by putting down what you already know and already understand. If you are designing a chair, for example, you know that humans are of predictable height. The seat height, the angle of repose, and the loading requirements can at least be approximated. So draw them. Most students panic when faced with something they do not know and cannot control. Forget about it. Begin at the beginning. Then work on each unknown, solving and removing them one at a time. It is the most important rule of design. In Zen it is expressed as “Be where you are.” It works.
6. Don’t forget your goal.
Definition of a fanatic: Someone who redoubles his effort after forgetting his goal. Students and young designers often approach a problem with insight and brilliance, and subsequently let it slip away in confusion, fear and wasted effort. They forget their goals, and make up new ones as they go along. Original thought is a kind of gift from the gods. Artists know this. “Hold the moment,” they say. “Honor it.” Get your idea down on a slip of paper and tape it up in front of you.
7. When you throw your weight around, you usually fall off balance.
Overconfidence is as bad as no confidence. Be humble in approaching problems. Realize and accept your ignorance, then work diligently to educate yourself out of it. Ask questions. Power – the power to create things and impose them on the world – is a privilege. Do not abuse it, do not underestimate its difficulty, or it will come around and bite you on the ass. The great Karmic wheel, however slowly, turns.
8. The road to hell is paved with good intentions; or, no good deed goes unpunished.
The world is not set up to facilitate the best any more than it is set up to facilitate the worst. It doesn’t depend on brilliance or innovation because if it did, the system would be unpredictable. It requires averages and predictables. So, good deeds and brilliant ideas go against the grain of the social contract almost by definition. They will be challenged and will require enormous effort to succeed. Most fail. Expect to work hard, expect to fail a few times, and expect to be rejected. Our work is like martial arts or military strategy: Never underestimate your opponent. If you believe in excellence, your opponent will pretty much be everything.
9. It all comes down to output.
No matter how cool your computer rendering is, no matter how brilliant your essay is, no matter how fabulous your whatever is, if you can’t output it, distribute it, and make it known, it basically doesn’t exist. Orient yourself to output. Schedule output. Output, output, output. Show Me The Output.
10. The rest of the world counts.
If you hope to accomplish anything, you will inevitably need all of the people you hated in high school. I once attended a very prestigious design school where the idea was “If you are here, you are so important, the rest of the world doesn’t count.” Not a single person from that school that I know of has ever been really successful outside of school. In fact, most are the kind of mid-level management drones and hacks they so despised as students. A suit does not make you a genius. No matter how good your design is, somebody has to construct or manufacture it. Somebody has to insure it. Somebody has to buy it. Respect those people. You need them. Big time.

by Michael McDonough

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Turismo no Porto

Nem sempre uma má notícia é, de facto, uma má notícia: o principal motivo de insatisfação dos turistas que entram na região Norte pelo Aeroporto Francisco Sá Carneiro está relacionado com os eventos desportivos e, presume-se, os resultados obtidos pelo FC Porto no Estádio do Dragão. Esta é uma das conclusões de um estudo que tem vindo a ser realizado, desde Março de 2008, pelo Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo (IPDT), segundo o qual os turistas aerotransportados dão ainda nota negativa à animação nocturna, às praias e aos eventos culturais.

No lado oposto da equação, os turistas dizem-se satisfeitos com a hospitalidade e simpatia, com o alojamento, a paisagem e a relação qualidade/preço do destino Porto e Norte de Portugal. Jorge Costa, do IPDT, salientou ainda que os visitantes da região, sendo maioritariamente pessoas com formação superior e rendimentos razoáveis, chegam dispostos a fazer compras (52,1 por cento), pelo que, disse, é necessário criar um roteiro de compras que tire partido desta predisposição.

A principal motivação dos turistas objecto deste estudo - centrado nos visitantes em lazer e que só posteriormente tratará os chamados turistas de negócios - é a visita a monumentos (81%), a experimentação gastronómica (58%) e, depois das compras, a visita às caves do vinho do Porto (43,1%). O retrato traçado com base em 917 questionários deverá permitir uma maior adequação entre a oferta e a procura, segundo explicou Melchior Moreira, presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal, que, tal como a Ana - Aeroportos de Portugal, é um dos parceiros do estudo.

Os dados ontem revelados indicam que o turista que visita a região tem, em média, 39 anos e dorme três noites, quase sempre no Grande Porto, gastando cerca de 843 euros. Numa fase posterior, explicou Jorge Costa, o estudo deverá incidir sobre a importância do turismo na economia da região.

França, Alemanha, Bélgica, Espanha e Inglaterra são, por esta ordem, as principais origens dos turistas que chegam a Pedras Rubras. A maioria vem ainda em voos da Tap (27,1%) e para passar férias, mas há já 25% de turistas que utilizam os voos de baixo custo da Ryanair para aceder à região. De acordo com o estudo, há ainda uma percentagem significativa de visitantes que vem com o intuito de visitar familiares e amigos (esta é mesmo a motivação maioritária entre os turistas vindos da Suíça), pelo que, notou Jorge Costa, deve ser feito um esforço no sentido de atrair este "mercado étnico", estimulando a visita dos filhos e netos de emigrantes que queiram vir conhecer as suas raízes.

No Público.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Smiless

A bem da complexidade comunicacional, é preciso resistir ao imbecilóide do bonequinho que ri.
A ironia é uma coisa com piada. É exactamente como levar uma criança para um jardim de pedófilos. À mínima distracção perdemo-la de vista. Aplique-se, por exemplo, a questão da ironia ao caso do Irão. Milhares de livros publicados em 30 anos a especular como seria um hipotético fim da teocracia e nunca ninguém poderia imaginar que esta tremeria com o passaroco azul do Twitter, que uma república de deus abanasse com dois verbos, um substantivo e onde um advérbio já nem cabe nos 140 caracteres permitidos.
A ironia exige maturidade mental e um certo refastelamento posicional, pois é um acto deliberado de distanciamento do objecto.
É por isso que temo por ela quando constato que na forma de SMS/chat do Facebook Messenger a comunicação catapulta adultos intelectualmente viáveis e sãos para uma existência infantilizada como se tivéssemos todos obrigatoriamente de falar um baby talk universal em alternativa a cair numa horrível Babel de insinuações, que só os smileys, os patéticos smileys, nos podem salvar! Tenham dó...
Um smiley no fim da frase, seja na forma de sorriso largo, carinha triste, piscar de olho ou língua de fora salivante reduz-nos a simplórios numa creche civilizacional em que babamos no teclado e temos de explicar que estamos na brincaderinha: "Essa roupa fica-te horrível :-P" É assim como aqueles que fazem aspas com os dedos. Nada de estados de alma complexos nem - oh lá lá - à sofisticação de uma leitura nas entrelinhas.
Não tarda e a simples confidência de um estado de alma ambíguo, não binário, acabará por mandar a Rede abaixo. "Não sei se estou bem ou mal, hesito..." Zssschhhh. Error 154.
Almoça-se com uma pessoa séria daquelas que sabem usar talheres de forma coreografada e discute-se o orçamento da empresa, a polémica literária do J. D. Salinger, o Woody Allen favorito entre alheamentos silenciosos carregados de sentido.
Despedimo-nos, e horas depois "encontramo-nos" no Facebook. Ora, "a bem da comunicação", temos que suspender o nosso aparelho retórico, mandar a ironia e o sarcasmo para as malvas, meter a antonomásia e a metonímia no tupperware e fingir que nunca nos embrulhámos com o eufemismo.
E regressamos a uma infância linguística da Net reduzida a cinco emoções básicas e no fim de balbuciar um curto enunciado (enquanto faço mil outras coisas).
- Gostou do almoço :-D?
- Da comida sim. Da companhia nem por isso ;-)
Ora se não estivesse ali aquele olhito virguloso a piscar no fim da frase estava tudo tramado.
"É que o texto das mensagens não tem o tom", dizem-me. Oh! Há milhares de anos que a escrita cria Deuses, canta o Amor, chora a perda, imortaliza heróis... e agora precisa de um hieróglifo que um chimpanzé descodifica em troca de um rebuçado para se perceber... o tom irónico ;-((
Qual a relevância desta questão?
É que mais uns tempos e os smileys terão tomado a escrita mainstream de jornais ou o rodapé dos noticiários - "Forte queda nas Bolsas :-( " - sem os quais já não teremos capacidade para entender se o enunciado anterior é positivo ou negativo. Mesmo agora, numa comunicação facebookiana, já não vai sendo possível renegar o smilês, sem que se vá criando inimizades porque do 'lado de lá' nos interpretam como má educação\/arrogância essa ausência de sorrisinhos descodificadores patetas! É como ir ao Japão entrar de sapatos nas casas, não usar talheres no Ocidente ou dizer mal das tripas do mestre Hélio no Porto. Temos de obedecer à tendência "National Geo".
- "A menina precisa de tau-tau"
- "A menina precisa tau-tau ;-)"
A segunda hipótese poderá, eventualmente, conter um futuro promissor. A primeira, sei-o agora, só dissabores, uma ameaça de queixa na polícia e a disseminação na rede que sou um atrasado mental. Ora, dizer tal apenas por não ter usado um smiley é uma ironia ;-)a>.

Texto de Luis Pedro Nunes.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Três problemas no ensino

A situação de conflito absurda a que se chegou no ensino parece resultar de três factores - outros terão o seu papel causal, mas estes parecem importantes.

O primeiro factor é a falta de profissionalismo de alguns professores. Saindo das universidades mal formados, alguns professores parecem não querer assumir as suas deficiências e ainda menos estudar para poderem desempenhar com profissionalismo a sua tarefa. Comprar livros, ler, discutir ideias, estudar - estas não parecem actividades populares entre os professores. Durante décadas, alguns professores dedicaram-se exclusivamente a dar aulas pelo manual escolar, redigido por vezes por professores com iguais deficiências formativas.

Quando foi criada a melhor iniciativa das últimas décadas no que respeita à educação - a formação de professores, contínua e obrigatória - os professores colaboraram na fraude: formações de fantasia em que toda a gente era aprovada, sobre matérias sem qualquer relevância para a qualidade do ensino. Professores com graves carências em física ou matemática faziam formações de teatro ou de Internet ou de jogo do pau, nas quais nada realmente aprendiam - e mesmo que aprendessem não seria relevante para a excelência do ensino. Bastaria que os professores tivessem exigido formação de qualidade e rigorosa, e um factor central da avaliação de professores estaria resolvido, pois se a formação fosse de qualidade muitos professores não teriam aproveitamento.


O segundo factor é a mentira política. Não é pura e simplesmente verdade que os actuais dirigentes educativos estejam genuinamente interessados na excelência educativa. Só duas coisas os preocupam: mostrar aos organismos internacionais números felizes de sucesso escolar inventado e poupar dinheiro. Tudo o que fazem é com estes dois axiomas em mente. O objectivo dos exames de fantasia e das outras medidas educativas é impedir a reprovação por via administrativa, sem que isso resulte de melhores aprendizagens. O objectivo da avaliação dos professores é apenas poupar dinheiro.


O terceiro factor é talvez o mais perverso. Porque nunca antes os dirigentes educativos mostraram tanto desinteresse pelas questões educativas, são os técnicos do Ministério da Educação que realmente governam actualmente. E fazem-no como sabem: com regras, legislações, formulários, normas, circulares. A consequência disto é a neutralização dos professores mais competentes, que agora não têm tempo para estudar nem preparar aulas; são estes professores que estão a pedir reforma antecipada pois, por profissionalismo e amor ao ensino, suportam programas idiotas, manuais tolos, colegas sem vida intelectual e estudantes mal-educados - mas não têm realmente paciência para passar a vida em reuniões e a ler legalês mentecapto.


Entretanto, nada se faz de relevante para melhorar a qualidade do ensino: nem por parte dos professores, nem do Ministério, nem dos legisladores. É como haver falta de água e andarmos a discutir a cor do Rio Douro.

Desidério Murcho, no Público de 09.12.2008.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

A última palavra

A ideia de que a verdade, a racionalidade e a realidade são “meras construções humanas” foi definitivamente refutada vezes sem conta ao longo da história da filosofia, e por vezes magistralmente. Uma das mais elegantes e recentes é A Última Palavra (Gradiva, 1999), de Thomas Nagel. Este importante filósofo norte-americano, nascido na antiga Jugoslávia, sublinha um aspecto comum a muitos desses ataques irracionalistas, aspecto que muitas vezes passa despercebido. Trata-se do aspecto que dá título ao livro e pode resumir-se na seguinte proposição: os ataques à verdade, à racionalidade e à realidade são de facto tentativas de ter a última palavra para dizer que ninguém pode ter a última palavra.

Uma confusão constante em quem aceita que a verdade, a racionalidade e a realidade são ficções humanas é pensar que é possível sair de todo o nosso sistema de crenças para declará-las a todas “meras construções”. Devia ser óbvio que se tudo o que pensamos é uma mera construção, também essa mesma ideia é uma mera construção. Só que ao defender tal coisa as pessoas não se apercebem tipicamente de que estão a tentar ter a última palavra, saindo de todo o nosso sistema de representações para declarar que tal sistema é inevitavelmente paroquial.

Ironicamente, algumas das nobres motivações que levam as pessoas a sustentar tais ideias exigem que não as aceitemos. Uma dessas motivações é a defesa da tolerância e a rejeição do dogmatismo. Mas ao pensar outra vez vê-se que a melhor motivação para defender a tolerância e rejeitar o dogmatismo é a convicção de que somos falíveis e portanto podemos estar errados quando pensamos seja o que for. É precisamente porque podemos estar errados que temos de estudar as coisas cuidadosamente, avaliando as nossas ideias mais básicas. Se a verdade e o conhecimento fossem meras construções, não teríamos de nos dar a esse trabalho, pois seria verdade fosse o que fosse que desejássemos pensar. Precisamente porque os romances são puras construções humanas, um romancista não se pode enganar quando decide que o oceano do planeta que acabou de inventar é lilás. Mas quando pensamos que os negros são inferiores, ou que as mulheres não devem ter direitos políticos iguais aos dos homens, ou que a Terra está imóvel no centro do universo podemos estar errados precisamente porque a verdade e o conhecimento não são meras construções humanas.

É talvez difícil de compreender que não há uma última palavra, tal como não há um último número. Tudo o que eu disse até agora implica que tudo o que eu disse até agora pode ser falso, por mais que eu pense que é verdade. E é isto que algumas pessoas parecem ter dificuldade em aceitar: a nossa falibilidade. Querem certezas, dogmas, garantias, métodos mecânicos que garantam a verdade, receitas que possam aplicar com segurança. Lamento dar más notícias, mas não há nada disso e nem sabemos se é verdade que nada disso há. Tudo o que podemos fazer é pensar cuidadosamente, e depois pensar outra vez.

Desidério Murcho no Público, ou na rede

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Descobir Serralves

Serralves é destaque por muitas coisas. Desta vez a minha atenção recaiu sobre um elemento do site muito simples, mas tão... que dizer: Lindo, educativo, original. Esta pequena animação interactiva, perfeitamente adequada à internet, serve de introdução aos mais pequenos, não só a Serralves mas ao mundo da arte em geral.

Vale a pena a visitar Serralves. Para os mais novos, mas não só. para mim também.


Textos, Ilustração e Design de Planeta Tangerina.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Mandarim

Tenho que dizer o seguinte em relação ao post anterior: Concordo com a análise, discordo das conclusões.

De facto o Inglês será cada vez mais o idioma universal que todos falarão pelo menos como segunda língua. O Mandarim poderá ter um grande número de falantes mas apenas num país - a China. E isso na minha opinião limita o crescimento desse idioma a todos os níveis.
Há certos campos onde uma língua poderá se impor melhor, como o Japonês nos negócios ou o Português no futebol. Mas são apenas nichos, nunca superarão as línguas francas. E mesmo em muitos nichos o Inglês tem muita força como no turismo, nos negócios, nas ciências, na cultura... enfim, de tudo um pouco.

Portanto, para além de alguns idiomas que são a língua franca regionalmente - Russo nos países eslavos, Alemão nos países de leste ou o Árabe na áfrica do norte - O inglês continuará a imperar por alguns séculos. Isso não mudará em quarenta anos. E na minha opinião, a língua que ganhará mais falantes num futuro próximo será mesmo o Espanhol.

Quanto ao Mandarim continuará a ser Chinês.

Inglês condenado a prazo

No mundo, o Mandarim ditará cartas; na Europa, voltam o Alemão e o Francês


Um dos resultados do actual boom chinês, segundo várias projecções: em 2050, o Inglês terá perdido, a favor do Mandarim, a sua posição hegemónica enquanto língua internacional. Um estudo do Laboratoire Européen d"Anticipation Politique (LEAP), responsável pelo site Europe 2020, confirma-lhe a decadência a prazo: dentro de uma geração, o Inglês estará reduzido à sua condição de língua veicular (língua internacional), cada vez mais pobre em vocabulário à medida que for diminuindo o número dos que o têm como idioma de origem. O LEAP frisa que isso já está a acontecer. Nos EUA, devido sobretudo ao crescimento demográfico da comunidade hispânica. Outras projecções: em 2025, o Espanhol será uma das línguas europeias internacionais, enquanto o Russo confirmará o seu lugar enquanto idioma veicular da Europa eslava.


O novo comissário europeu para o multilinguismo, Leonard Orban, chama a atenção para o seguinte: fruto de uma aposta das autoridades de Pequim, são também cada vez mais os chineses que estão a aprender línguas europeias, mas os europeus continuam, na sua grande maioria, a ignorar o Mandarim.

Por enquanto, na UE, o Inglês continua a ser a língua estrangeira mais falada (38 por cento dos cidadãos europeus dizem conseguir fazê-lo), mas, enquanto língua materna, já perdeu terreno para o Alemão. Um estudo do Laboratoire Européen d"Anticipation Politique (LEAP), responsável pelo site Europe 2020, confirma-lhe a decadência a prazo: dentro de uma geração, o Inglês estará reduzido à sua condição de língua veicular (língua internacional), cada vez mais pobre em vocabulário à medida que for diminuindo o número dos que o têm como idioma de origem.
O LEAP frisa que isso já está a acontecer. Nos EUA, devido sobretudo ao crescimento demográfico da comunidade hispânica. No Reino Unido e na Irlanda, por força do ressurgimento das línguas independentistas. Em alta, no futuro próximo, estará o Alemão. Mas também, de novo, o Francês, em grande parte devido a um forte crescimento demográfico. Na UE de hoje, encontram-se em segundo lugar enquanto língua estrangeira mais falada (14 por cento). Com seis por cento de adeptos, o Espanhol e o Russo são os outros idiomas mais conhecidos na União Europeia. Outras projecções: em 2025, o Espanhol será uma das línguas europeias internacionais, enquanto o Russo confirmará o seu lugar enquanto idioma veicular da Europa eslava.

C.V. no Público

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Reflexões I

As escolas públicas, o deus mercado e a democracia — ou como os discursos baseados na evidência e nas falinhas mansas encobrem as práticas mais canalhas

«Pode-se não perceber nada na superfície, mas nas profundezas o inferno está em chamas».
(Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 1998)

O capitalismo global não tem inimigos externos. Agora o inimigo é a opinião pública que é preciso manipular, em cada país, de modo a manter o poder, sem anular, ainda, o direito de voto. A arma mais poderosa dos actuais governos já não é o velho poder militar, mas competentes gabinetes de comunicação. Aos velhos generais sucederam os directores de marketing.
Estratégias sofisticadas, bem planeadas e poderosas, são usadas para transformar os discursos interesseiros, dos donos do mercado, em ideias populares. «Fazendo aparecer os interesses das corporações financeiras como se fossem a expressão política de toda a sociedade»
(Popkewitz).

Um exemplo desta estratégia é o argumento segundo o qual o futuro da nação depende inteiramente da educação e que a escola pública não está a responder capazmente a este desafio. Com esta ideia vem embrulhada a declaração de que não há crise do capitalismo e que as insuficiências deste se devem à falta de mão-de-obra altamente qualificada. Isto é dito onde a realidade nos mostra que a mão-de-obra qualificada está em larga maioria sem emprego, ou a ser escandalosamente explorada em trabalho desqualificado.

Ao culpabilizarem o sistema público de ensino, os defensores da submissão da sociedade aos interesses momentâneos do mercado, apropriam-se das preocupações dos pais e de outros cidadãos, favorecendo os argumentos a favor da privatização da educação. Além disso, conseguem disfarçar os seus interesses egoístas, apresentando-os como conclusões cientificas e verdades inquestionáveis e universais.

A afirmação de que uma boa educação, só por si, é um pré-requisito para que todos tenham um bom emprego, e um bom salário, é uma mistificação. Tal mistificação faz parte do pacote discursivo e das práticas dos que recusam discutir o sistema e as condições económicas dos países. Condições que favorecem ou restringem a quantidade e a qualidade dos empregos disponíveis, bem como a facilidade ou dificuldade de acesso ao mercado de trabalho. «Não há evidência de uma relação directa entre as boas qualificações dos estudantes e altos salários futuros quando se controlam variáveis como a de classe social» (Spring). A estrutura salarial e o nível das remunerações, são determinantes no incentivo à procura de formação, sobretudo, por parte dos mais pobres.

É evidente que um nível educacional mais elevado melhora as oportunidades individuais de acesso ao trabalho. Mas também é evidente que o facto de elevarmos os níveis de qualificação, tem contribuído para acentuar as desigualdades económicas e culturais. O argumento de que uma boa educação, só por si, produz vantagens económicas, esconde a importância que a divisão nacional e internacional do trabalho têm no incremento da desigualdade social e no acesso ao trabalho qualificado. Continuam a ser as políticas económicas — e não as políticas educativas — a determinar o aumento ou a diminuição, e a natureza, dos postos de trabalho, e, questão crucial, os níveis salariais e a menor ou maior desigualdade educativa e social.
A retórica que diz que o futuro da nação depende apenas da educação[1], é mais uma forma de fugir à responsabilidade de reconhecer a incapacidade do capitalismo em responder às obrigações dos direitos de cidadania. E serve também para abrir as portas a mais um negocio, sem riscos, feito à custa do desmantelamento do Estado, da privatização da educação, e do incremento das desigualdades sociais.

No bombardeamento mediático a que estamos sujeitos, conceitos como competitividade, eficiência, produtividade, sacrifício, cliente, consumidor, substituíram conceitos democráticos como, por exemplo, igualdade, solidariedade, paz, cooperação, Cidadão e cidadania. Produzir «capital humano», em vez de formar cidadãos, faz parte da religião neoliberal e do novo credo educacional.

Das muitas tendências neoliberais, em matéria de educação, uma vai em crescendo. Ela tende a organizar o sistema de modo a que os alunos considerados com baixo potencial de aprendizagem sejam discretamente descartados, aprendendo apenas o básico, em escolas pobres. O poder sabe, ao contrario do que apregoa, que na economia global, quer a nível internacional quer em cada nação, não só prevalece, como se vai alargando, a quantidade de trabalho que exige baixa qualificação. Por isso, defendem a concentração do investimento na formação de elites, embora já pensem também que o trabalho altamente qualificado pode ficar mais barato se importado[2]. A observação do mercado de trabalho, a nível internacional, mostra que a desigualdade educativa vai em crescendo e com ela a desigualdade e económica.

As reformas neoliberais subordinam a educação às regras do mercado. Os seus defensores consideram que os alunos, oriundos das classes média e média alta, têm maior potencial de «retorno» do investimento em educação. E que é neles que vale a pena investir. A massa dos pobres — pescando nela algum que se destaque — deve ser «democraticamente» encaminhada para formações profissionalizantes básicas e baratas. Para criarem um sistema educativo que facilite estes objectivos têm vindo a propagandear, e a naturalizar, conceitos como a «livre escolha da escola» e o «cheque-ensino».
A «livre escolha da escola» é apresentada em nome da liberdade dos pais. De facto, trata-se de uma enganadora manipulação do termo liberdade. No acesso a qualquer bem de consumo, só ilusoriamente somos livres de o obter, pois cada um é condicionado pelos recursos económicos de que dispõe. Assim, a aplicação deste modelo de mercado no acesso à educação, colocar-nos-ia em contradição com os princípios democráticos da igualdade e universalidade que decorrem do conceito de educação como um bem público. Para disfarçar a desigualdade produzida por esta medida, os elitistas invocam o «cheque-ensino».

O «cheque-ensino» é mais uma mistificação. Se fosse introduzido seria magro à partida e com tendência para a anorexia a prazo. Emagrecendo-o progressivamente, o Estado encontraria nele o modo de escapar às suas obrigações educativas universais. Mas acima de tudo, ele seria o melhor meio de promover a desigualdade de acesso dos cidadãos à boa educação. Neste modelo, o que conta não é tanto o valor do cheque dado pelo Estado mas o que cada um lhe pode juntar. E é esse complemento, à medida do bolso de cada um, a decidir a melhor ou pior escola a que os seus terão direito.
A «liberdade de escolha da escola» e o «cheque-ensino», são duas das ferramentas que o neoliberalismo quer usar para desenvolver a nova sociedade de classes cada vez mais desigual e mais subserviente ao poder dominante.

Nesta perspectiva, os sistemas de educação pública (sem esquecer o que neles é preciso transformar e recriar), têm um imenso sentido para milhões de crianças e jovens. Para milhões, a escola é quase a única oportunidade de aumentarem o seu «capital cultural» num mundo cada vez mais injusto (Bourdieu). A escola pública é essencial para salvaguardar e desenvolver a democracia.
A política educativa que tem vindo a ser aplicada em Portugal, copiada da deriva neoliberal, é, antes de mais, um ataque à democracia e à cidadania. Paradoxalmente, é-nos apresentada sob a capa das boas intenções e do interesse geral. Mas, como já dizia a minha avó, «de boas intenções está o inferno cheio».

[1] Pensada segundo os interesses das elites dominantes.
[2] É o que já se passa no desporto. É mais barato importar os melhores atletas dos países pobres do que formá-los nos países ricos. Leia-se o que se refere à «carta verde» nos EUA e à «carta azul» na UE.

José Paulo Serralheiro; Jornal "a Página" , ano 16, nº 171, Outubro 2007, p. 3.

Reflexões II

Reflexões em relação ao texto anterior:

Em relação à primeira parte concordo com o sentido geral e considero até bastante relevante. Mas naturalmente acho que a educação, seja a que nível fôr, é um meio de contribuir para o bem próprio e consequentemente para o bem geral. O argumento que há muitos licenciados sem emprego é verdade mas também limitativo. Acho até que as empresas não investem em pessoal com formação porque em geral os empresários têm eles próprios pouca educação. Depois, há outras formas de gerar rentabilidade para além do vulgar "emprego". E qualquer função que desempenhemos, seremos mais eficazes se tivermos mais conhecimento sobre a mesma.
O Estado baseado no "funcionário ignorante" que só obedece é uma das razões do nosso atraso em relação ao resto da Europa.

Por outro lado, e talvez paradoxalmente, também considero que há mais educação do que a tradicional leccionada na escola. As pessoas devem fazer a sua auto-formação e também devem ser empreendedoras na sua vida pessoal. Isto de tirar um curso e achar que agora é só esperar que chegue o dinheiro, é chão que já deu uvas - já há muito que não resulta. Embora muita da educação actual assente neste modelo.

No limite, actualmente existem dois modelos de governo opostos: O estado liberal em que é a iniciativa pessoal de cada um que gera riqueza, sendo depois responsáveis por manter a estrutura social coesa, através da criação de empregos ou até pela caridade ou filantropia (perto do modelo dos Estados Unidos ou do Mónaco).
Por outro lado temos o modelo social em que todos os recursos são redistribuidos pelos cidadãos assegurando um mínimo de condições para todos. Neste modelo não temos que nos esforçar para termos o nosso bem estar assegurado, mas onde também não há qualquer recompensa se o fizermos. Julgo que este só funciona em estados onde haja muita riqueza para redistribuir ou que os cidadãos sejam tão responsáveis que não deixem de se esforçar para o bem comum quando a tal não são obrigados, ou motivados.

Naturalmente será uma situação intermédia entre estes dois modelos limite que residirá o Estado adequado aos cidadãos que temos.

Nesse sentido, concordo com toda a argumentação final do artigo. O modelo do cheque ensino cria clivagens sociais que em nada contribuêm para a formação pessoal (para além da lectiva) de cada individuo. Acho muito mais válido aprendermos todos juntos e depois quem quiser, ou conseguir vai mais longe. Mas por um momento começámos todos juntos e em pé de igualdade. E quem quiser ser elitista desde a primeira hora que vá ter os filhos para a Suiça e deixe-os lá num colégio para nunca saberem o que é ser Português.
Para o melhor e para o pior.